2.12.2012

Sugestão do Prof. Júlio

Olá a todos e desculpem não "postar" mais amiúde.

Hoje gostava de vos convidar a uma viagem pelos Açores do Século XIX pela mão de uma grande senhora. O último livro de Maria Filomena Mónica, Os Cantos, A tragédia de uma família açoreana, impõe-se como um retrato humano muito interessante. Interessante porque os retratados são  das mais ilustres figuras da história açoreana, daquelas que semeiam os seus nomes nas nossas ruas e praças e nos demais lugares do nosso imaginário colectivo (o josé do Canto, o Artur Hintze Ribeiro, o Jácome Correia, entre outros) e interessante também pela lucidez e pelo modernismo das suas atitudes e convicções mais profundas. Eram visionários. Em particular um, o José do Canto. Um homem que introduziu, antevendo o fim do ciclo da laranja, algumas das mais características culturas açoreanas: o ananás, o tabaco, o chá. Um homem que entendia modernizar a agricultura pela educação das gentes e, mais em particular, pela educação dos filhos nos melhores colégios europeus. Facto que seria o seu maior insucesso e o fulcro desta tragédia familiar. Um homem que sempre viveu arredado da política, desprezando-a, e que chamava pátria aos seus Açores.

Uma crítica no entanto coloco a este magnífico retrato. O facto de se esquecerem as condições de vida do povo que para estas grandes famílias trabalha em regime não muito longe da escravatura à terra. E isso para mim é incontornável: estas grandes famílias, que o foram e que muito contribuiram para o desenvolvimento sócio-económico dos Açores de então e de agora, só o foram, à custa dos homens que se juntavam aos magotes nos cantos das freguesias rurais e que, avaliados pelos capatazes, lá eram (ou não) contratados à jorna. Uma vida de miséria dominada pelos designios dos donos das terras e aquietada pelos sermões eclesiásticos. Eram os meus antepassados e custa-me que estes não aparecam no retrato.

Boas leituras :-)



http://www.bertrand.pt/ficha/os-cantos?id=10117167

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