"Julgo
que hoje os nossos filhos embora sabendo o que é o avental, não sabem
por certo a grande utilidade que teve essa peça simples quando usado
pelas nossas avós.
O
uso principal do avental era para a avó proteger o seu vestido, pois
ela não possuía muitos, e o avental era mais fácil de lavar e feito de
fazenda mais barata. Muitas vezes quando estava um pouco sujo era
voltado do avesso e assim contribuía para se poupar, pois nesse tempo o
poupar era apanágio de toda a gente.
Quando
o luto obrigava havia um cuidado extremo, todo o avental e algibeiras
eram ornamentados com o preto, símbolo de dor, da tristeza e da saudade.
Além
disso, o avental servia de pegas para retirar as panelas do forno, era
ideal para enxugar as lágrimas dos netos, e em algumas ocasiões, usado
para limpar orelhas e narizes sujos, e até mesmo para limpar as sobras
do rapé do nariz da própria avó.
O
avental servia para levar o milho ao galinheiro e no regresso para
trazer os ovos, os pintainhos pequenos e às vezes ovos já meios chocos
para acabarem a sua incubação no cesto no canto da cozinha debaixo da
galinha choca.
Quando
recebiam visitas, era o lugar ideal para por trás deste as crianças se
esconderem envergonhadas, algumas vezes vigiando apenas por algum
pequeno buraco já nele existente.
Quando
fazia frio a avó envolvia o avental à volta dos braços para se aquecer,
era usado dobrando-o para se sentar na pedra húmida do quintal, outras
vezes enrolava-o para fazer de rodilha para trazer o pote da água ou o
cesto do milho para secar.
Aqueles
aventais grandes serviam para a avó limpar o suor da face enquanto
cozinhava debruçada sobre o fogão de lenha ou das grelhas.
Era
também usado para recolher as cascas das ervilhas, do feijão, das favas
para atirá-las para o galinheiro, onde as galinhas se regalavam a
depenicar.
O avental servia para transportar gravetos e lenha para a cozinha e ainda para trazer os vegetais do quintal.
Durante o ano e conforme a época servia para trazer as laranjas, as maçãs, os pêssegos e outros frutos do pomar.
Quando
alguma visita inesperada aparecia a subir a rua, era surpreendente ver
como a avó usava essa peça, para limpar o pó da mobília nos sitos mais
visíveis, em poucos segundos.
Quando
o jantar estava pronto, a avó chegava ao balcão e abanava o avental
para avisar os homens que estavam a trabalhar no campo que era hora da
refeição.
A avó usava-o para colocar as refeições quentes a arrefecer no parapeito da janela.
Nos dias de orvalho ou quando estava quente do forno servia ainda de lenço, colocado à volta da cabeça e do pescoço.
As
netas agora usam todas as peças modernas para fazer os serviços que o
avental da avó desempenhava sozinho. Por certo ficarão perturbadas só de
imaginar os germens que deveriam existir nessa peça tão característica e
com tantas utilidades. No entanto não me lembro de alguma vez, alguém,
ter apanhado uma doença proveniente do dito “ Avental da Avó” de que
tanto gostava.
Levará
muito tempo, mesmo com a nova tecnologia, para que seja inventado algo,
tão útil e que uma só peça possa substituir o velho avental que tanta
utilidade tinha."
Clímaco Ferreira da Cunha, Recordando o Passado (2011)
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